Um questionamento sobre a cura da HANSENIASE

Caso novo de Hanseniase em crianaça
de oito anos
      Depois de trabalhar  por 24 anos no programa de Hanseníase na região do Cariri posso dizer conheço bem a história da doença de centenas de pacientes. Acompanhei também a evolução do tratamento desta temida moléstia. Assim como participo ativamente da luta para superar o preconceito secular que atemorizava profissionais e a população  em geral contra o mal de Hansen, Morféia, ou a temida Lepra.
   Já trabalhava no programa quando foram inciados os primeiros tratamentos com a poliquimioterapia, considerada aquela época uma revolução terapêutica, uma vez que ao ser diagnosticado como doente de hanseníase o paciente estava condenado a passar o resto da vida tomando a medicação. Naquele momento, já superado  confinamentos nos leprosários ou colônias,  as autoridades da saúde estabeleceram que o novo tratamento seria feito por cinco anos ou até o paciente apresentar a negativação do exame de BAAR , pesquisa feita na linfa do paciente para identificar o Mycobaterium leprae agente da doença, 
Mal pefurante plantar em
paciente de 41 anos. Sequela
frequente  em doente com outras
queixas
     A evolução do tratamento com a chamada poliquimioterapia,  assegurada por pesquisadores e cientistas como um passo definitivo para a cura efetiva da doença,  fez os governos proclamarem a erradicação da Hanseníase como um problema de saúde pública, ou seja  a quantidade de casos teria sido reduzida a patamares aceitáveis.    
      Para alcançar esse objetivo foi feita uma astúcia estatística. Passaram a considerar curados  todos os doentes que negativassem a baciloscopia;  posteriormente todos aqueles que concluíssem o tratamento com a regularidade exigida. Independente dos sintomas terem melhorado ou não, estatisticamente o doente é considerado curado. Aqueles que tiveram seu tratamento iniciado precocemente e ainda não apresentavam sequelas, efetivamente, na grande maioria dos casos, obtiveram a cura completa, já outros com a doença avançada, continuam a apresentar sintomas que passaram a ser chamados e tratados como sequelas ou reações, que hoje são ditas "permanentes e irreversíveis", mais para efeitos estatísticos são considerados curados. Criaram novos conceitos e definições para uma em doença em progressão que as estatísticas não consideram  em atividade!
Paciente VLS 79 anos iniciou tratamento em
2003, voltou em 2014 a apresentar manchas
em todo o corpo e exame positivo
    Acreditam e defendem os pesquisadores que nestes casos a doença não é mais transmissível, uma vez realizado o tratamento regular. Pergunto: será verdade?! Vejo muitos paciente outrora  com os  exames do bacilo negativado voltarem a adoecer e apresentar os exames positivos novamente, sete, oito, dez anos após serem considerados curados. Para estes dizem que podem ter sido uma reinfecção, ou recidiva.
    O problema maior foi que ao conseguir, na marra,  reduzir as estatísticas, a preocupação com a hanseníase foi diminuindo. Junto com essa as pesquisas para aperfeiçoar o tratamento e os recursos para o programa. 
     Sendo assim, diante do exposto, visto que essa é uma doença de curso crônico, não será de admirar que dentro de médio prazo a situação volte ao patamar anterior ao alcançado pelas ações produzidas pelas campanhas de busca ativa e aprimoramento dos programas ocorrido com muita intensidade  no passado recente.
Paciente CA, 8 anos de tratamento,
mal perfurante plantar e reabsorção ossea
nos pés, sequelas permanente e progressivas
    Essa é uma reflexão de quem entende que o tratamento dessa doença e esse programa estão sendo negligenciados pelas autoridades competentes. Portanto não se propõem a ser um texto cientifico, mas um chamado ao debate e um convite a quem discordar para fazermos um estudo sobre as recidivas em paciente com hanseníase em Juazeiro do Norte, ou a ouvir o que dizem estes enfermos, frequentadores dos ambulatórios especializados há anos, e que não se sentem curados.

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